A máquina de madeira é um romance de Miguel Sanches Neto que se aprofunda na história e nos pensamentos do padre e inventor Francisco João de Azevedo. A obra nos transporta para o século XIX, mais especificamente para o ano de 1861, na Corte do Rio de Janeiro. O livro tem como fio condutor a jornada de Azevedo para expor sua invenção, uma máquina taquigráfica, na Exposição Nacional. Com um tom intimista e reflexivo, a narrativa explora as angústias do inventor, sua luta contra a timidez e o contraste entre sua visão de progresso e a realidade da sociedade brasileira da época, marcada por um certo atraso e falta de valorização da inteligência e da criatividade nacionais.
📑 Resumo por Capítulo/Conto O livro é dividido em duas partes principais, “LONDRES” e “NOVA YORK”, mas o trecho fornecido concentra-se no primeiro momento da jornada do protagonista.
LONDRES
Nesta seção, o leitor acompanha a chegada do padre Francisco João de Azevedo ao Rio de Janeiro. A narrativa começa com uma descrição detalhada de suas mãos, que, apesar de ele ser um sacerdote, denotam o trabalho manual de um operário. O contraste entre sua aparência refinada e a rudeza de suas mãos é uma metáfora para a dualidade de seu ser: o religioso e o inventor. A jornada de navio e, em seguida, a viagem de carroça pela cidade, se tornam uma odisseia de reflexões internas para o padre. Ele enfrenta a desconfiança dos outros, a dificuldade de transportar sua invenção e a indiferença das autoridades. A interação com o cocheiro, um português cético e pragmático, serve como um contraponto à sua visão idealista. A seção culmina com a chegada à Escola Técnica, local da Exposição Nacional, e o encontro com José Frederico Rischen, outro inventor, que oferece um olhar mais otimista sobre o futuro do país e o potencial da inventividade brasileira.
🖋️ Principais Pontos
- Dualidade do Protagonista: A obra destaca a constante tensão entre o Francisco João de Azevedo padre e o Francisco João de Azevedo inventor. Suas mãos, que não são feitas para “ministrar santos sacramentos”, mas sim para o trabalho, simbolizam essa dualidade e seu orgulho pela sua origem humilde e pelo trabalho manual.
- Crítica à Sociedade da Época: Através dos diálogos com o carroceiro, o autor expõe a crítica à passividade e ao desinteresse da sociedade brasileira da época em relação à inovação e ao progresso. O carroceiro representa o ceticismo de quem vive as dificuldades do dia a dia, enquanto o padre simboliza a esperança e a crença em um futuro melhor para o país.
- O Dilema do Criador: O livro mergulha nas inseguranças e nos questionamentos de um inventor. O padre Azevedo se pergunta se seus sonhos “estariam mortos ali dentro” da caixa e se sua invenção teria um futuro, ou se seria um “Adão sem descendentes”. Essa reflexão sobre a vida e a utilidade de sua criação é um dos pontos mais tocantes da narrativa.
- Fé no Progresso versus o Pragmatismo: O contraste entre o padre Azevedo e o carroceiro é um dos eixos centrais do romance. O inventor crê no lema “opes acquirit eundo” (o rio nasce pequenino mas com o caminhar adquire forças) para si e para o Brasil, enquanto o carroceiro só acredita no que é tangível e imediato: buracos nas ruas, falta de iluminação e a fome.
💡 Aprendizados
- Persistência e Teimosia: A história de Francisco João de Azevedo é um lembrete de que a capacidade criadora e a inovação exigem persistência e uma boa dose de teimosia, especialmente em ambientes desfavoráveis.
- O Valor da Inteligência Nacional: A narrativa nos faz refletir sobre a importância de valorizar e investir em talentos locais, mesmo quando a solução “de fora” parece mais fácil.
- O Contraste entre Sonho e Realidade: A jornada do padre mostra o abismo que muitas vezes existe entre a idealização de um projeto e as dificuldades práticas de sua execução. O sonho do inventor é confrontado com a realidade cansativa e burocrática.
👀 Curiosidades
- A máquina de madeira é uma obra de ficção histórica baseada em um personagem real: Padre Francisco João de Azevedo, que de fato inventou uma máquina taquigráfica e a expôs na Exposição Nacional de 1861.
- O livro é um exemplo de metáfora para a própria história do Brasil, que, assim como o rio do lema “opes acquirit eundo”, busca adquirir força e progresso em seu percurso.
🔄 Conhecimentos Conectados
- O outro lado do paraíso (Miguel Sanches Neto): Outra obra do mesmo autor que também lida com o passado brasileiro, explorando personagens e fatos históricos de forma romanceada.
- O Alienista (Machado de Assis): A obra de Machado de Assis, assim como “A máquina de madeira”, aborda a questão da genialidade e da loucura, e como a sociedade lida com o que foge à normalidade. Ambos os livros exploram a figura do “gênio incompreendido” em um contexto brasileiro.